domingo, 16 de julho de 2017

Poliana Okimoto fora do Mundial

Poliana Okimoto e sua medalha olímpica.
Sempre fui muito contra a forma como eles fazem a seletiva. Uma única prova pra tirar os melhores atletas é muito difícil. Nas maratonas aquáticas, há muitos fatores externos que interferem. Eu não acordei num dia bom, não me senti bem durante a prova, e tendo uma única seletiva, fica difícil. Até a natação, para o Mundial, teve pelo menos duas classificatórias, e a maratona tem uma única, mesmo com essas variáveis. Teve o Maria Lenk uma semana antes. Eu nadei os 800m no sábado à noite, e os 10 km foram na quinta-feira seguinte. Pra mim, com 34 anos, com dois ou três dias de recuperação, não é fácil. Minha recuperação não é tão rápida quanto a das meninas de 18, 19.”
Poliana também teria chance de disputar outra prova e garantir sua ida para Budapeste, mas não considerou que valeria a pena. “Eu não planejei ir pro Mundial pra nadar só os 5 km. A prova olímpica e pela qual eu treino é a dos 10 km. Se eu tivesse nela, eu com certeza nadaria os 5 km, mas ir pra lá só pra isso, não era meu planejamento. E se fosse pros 5 km, meu técnico não iria comigo. Ele sempre esteve comigo em todos os campeonatos, faz parte de tudo o que eu conquistei. Ele não estando lá seria injusto”, completou.
Mais tocante, porém, foi o desabafo de Poliana com relação ao reconhecimento que ela tem recebido, quase um ano após a sua conquista olímpica. O saldo? Valeu mais para seu orgulho próprio e dos familiares e amigos, do que para o restante.
“A satisfação que eu tenho quando eu olho a medalha olímpica em casa é enorme. São 120 anos de história olímpica e eu fui a primeira da natação feminina do Brasil a ganhar uma. Ela veio pra ser exemplo pra outras meninas acreditarem que a gente pode, e essa é minha grande decepção. Acho que a CBDA poderia fazer um projeto e usar essa medalha pra atrair público feminino pra natação, para maratona aquática, mas pelo contrário. A CBDA não deu valor nenhum, parece até que não gostaram, que querem apagar a medalha. Agora, no Maria Lenk (no mês passado), eu subia no pódio e o narrador me anunciava e nem falou da minha medalha. Custava falar? No último dia o Ricardo (Cintra, seu marido e técnico) foi lá e deu uma bronca. ‘Pô, por que você não fala que a Poliana é medalhista olímpica? Ela acabou de ser medalhista. Não tem porque você esconder isso’. É um exemplo para as outras meninas que estão ali. Essas coisas deixam a gente chateada. Fora os patrocínios, que já falei bastante sobre isso, que não vieram. Pelo contrário, até perdi os Correios. Não tive valorização nenhuma na parte financeira.”
O esporte em si é machista, e acho que o reconhecimento de uma medalha olímpica, se fosse masculina, teria sido diferente do que é ser de uma mulher. Mas quando olho pra trás e vejo tudo o que tive que percorrer pra conseguir essa medalha, eu vejo que vale a pena, não importa o reconhecimento e valor que dão pra ela. Fora a história, que ela vai estar pra sempre".
Fonte: Swim Channel por Mayra Siqueira

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